Por que ele brochou – e como lidar?

 A perda de ereção no sexo pode ter diversas causas, como ansiedade de desempenho. Saiba o que dizer e fazer se acontecer com a sua parceria



Por Teresa Embiruçu*

Brochar é mais comum do que se imagina. As estatísticas estimam que mais da metade das pessoas com pênis vai brochar - pelo menos - uma vez na vida. Atendo como terapeuta sexual em uma clínica de urologia e percebo como a perda de ereção traz vergonha para os pacientes. É como se colocasse a masculinidade deles em xeque.

Nossa sociedade é falocêntrica, ou seja, toda a virilidade e toda a “potência” do homem estão concentradas no pênis. Por isso existe uma dificuldade de entender que o prazer sexual não se resume ao pênis ereto e à penetração, que o sexo não precisa acabar diante de uma brochada, que é possível explorar outras práticas...

O homem aprende que seu órgão genital deve estar sempre pronto, disposto e jamais pode falhar. O pênis duro é tido como a “prova viva” de que existe desejo. Ora, um pessoa muito ansiosa para transar pode atrapalhar o próprio fluxo de sangue para o pênis, que continuará mole!


Por que brochou?

Quando o parceiro sexual brocha, há quem se culpe imaginando que está menos atraente, não é “boa de cama” etc. Mas existem causas emocionais e orgânicas que levam à perda da ereção peniana (com as quais você pode não ter nada a ver!).

A causa mais comum é a ansiedade, muitas vezes desencadeada pela expectativa de agradar e autocobrança excessiva. Ela libera adrenalina no organismo, estreitando os vasos que levariam o sangue para “inflar” o pênis.

Na primeira vez com alguém, a brochada pode ser só um medo do próprio desempenho. Talvez sinal de que se “assustou” com o apetite ou a postura sexual da outra pessoa – mais dominante e fã de posições “exóticas”, por exemplo.

Numa relação longa que vai mal, brochar pode indicar um distanciamento emocional entre o casal. Quadros de depressão e estresse (principalmente ligados a problemas no trabalho e dificuldades financeiras) também interferem no desejo sexual e na capacidade de ter ou manter a ereção do pênis.

Entre as causas orgânicas estão: excesso de bebida alcóolica e/ou drogas, tabagismo, diabetes, obesidade, colesterol alto, diminuição dos níveis de testosterona (natural com o envelhecimento), câncer de próstata, uso de antidepressivos e/ou anti-hipertensivos...

 

Como lidar com a brochada?

Uma brochada pode ter diversas causas, mas todas costumam levar à embaraçosa questão “O que falo/faço agora?”. A reação da parceria sexual numa hora dessas pode ser encorajadora ou gerar gatilhos negativos para toda a vida. Piadas não são muito bem-vindas pelos homens nesse momento. Leveza, sim.

Cobranças, humilhações e comparações prejudicam a autoestima e apenas reforçam um machismo tóxico. Insistir em manter todo o foco no pênis, tentando fazê-lo ficar ereto a todo custo, pode reforçar a expectativa pela penetração e piorar a situação (a não ser que haja intimidade). O ideal seria acolher e não pressionar. Algo como: “Ei, relaxa... acontece!”.

Se ainda houver clima, o casal pode continuar o sexo de outras formas. Vale lembrar que a mulher não depende do pênis para gozar e o homem pode proporcionar prazer por meio do sexo oral, da masturbação, do uso de vibradores etc. Que tal dizer: “Tá tudo bem... deixa eu conhecer seu talento com os dedos/a língua?”.

Fingir que nada aconteceu é válido, mas perde-se a chance de aprofundar o vínculo... Buscar uma causa ou apontar responsáveis para a brochada também pode não surtir o efeito desejado. Aliás, a primeira perda vez que um pênis brocha é delicada: se a memória registra como “fracasso”, pode gerar um pânico que atrapalhará as próximas ereções.

Se a perda de ereção se tornar constante e causar angústia, uma consulta ao urologista e terapia s3xual podem ajudar.

 *Teresa Embiruçu é médica ginecologista, obstetra e sexóloga do Coletivo Ser e do Projeto Afrodite da UNIFESP.

 

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