É normal sentir atração por outras pessoas?

 Terapeuta de casais reflete sobre a culpa e a angústia de desejar alguém fora do relacionamento



Por Théa Murta*

“Se você está feliz no relacionamento... não terá desejo por mais ninguém”. Esse ideal romântico costuma gerar culpa e angústia e está longe de ser uma verdade absoluta. Sentir atração não está sob nosso controle. O que decidimos fazer com ela, sim.

Como psicóloga e sexóloga, escuto o tempo todo pacientes angustiados por esse motivo. Essa ambivalência é muito mais comum do que se imagina. E não há nada de errado com ela, por mais desconfortável que seja também pensar na nossa parceria se atraindo por um ser humano além de nós.

Culturalmente fazemos uma associação direta entre relacionamento e completude. Pensamos mais ou menos assim: “Eu preciso completar o outro por inteiro e vice-versa, caso contrário o amor não tem como existir”. Mas estar em uma relação não é condição intrínseca para desejar apenas uma pessoa. Atração sexual e amor são emoções distintas, sob as quais não temos controle absoluto.

Se você tiver contato com alguém que possua características, gestos, fisionomia e comportamentos que naturalmente te seduzem... você não escolhe sentir atração. Você simplesmente sente. Isso não quer dizer que o seu relacionamento está ruim. Podemos sentir atração, entender o sentimento, passar por ele e seguir com a vida. É diferente quebrar um acordo do casal, por exemplo, e agir em direção à infidelidade.

Amor tem a ver com construção, afeto, respeito, comprometimento e vontade de fazer dar certo para além da atração... É importante discutir e alinhar os limites de forma clara com a sua parceria – muitas vezes acreditamos que algo está óbvio e implícito, mas não é como o outro interpreta. Então, a questão não é sobre sentir a atração (normal!), mas o que se faz com ela.


*Théa Murta é psicóloga, especialista em Análise do Comportamento, Neuropsicologia e Sexualidade Humana. Membro da Comissão Mulheres e Questões de Gênero do CRP-MG.

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